quarta-feira, 17 de março de 2010

Reconhecimento Externo da Independência

Era fundamental que o Brasil fosse aceito internacionalmente como nação independente. A necessidade não era somente política, mas econômica.

Os Estados Unidos foram o primeiro país a oficialmente considerar o Brasil independente.

Em 1825, Portugal assinou o acordo de reconhecimento, pelo qual receberia do Brasil, como indenização, dois milhões de libras. Nosso país não possuís essa quantia. Por outro lado, Portugal já tinha com os ingleses um dívida alta. A Inglaterra, então, emprestaria o dinheiro ao Brasil para pagar Portugal. Este, por sua vez, saldaria com essa importância pare da dívida com os ingleses.

O dinheiro, assim, nem sequer saiu dos cofres ingleses. Além disso, coube ao Brasil o pagamento dos juros e das despesas pelos serviços, o que ampliou a dívida que nos atrelaria à Inglaterra por todo o século XXI

A confederação do Equador

Os descontentamentos resultantes da Corta Outorgada em 1824, foram claramente manifestados em Pernambuco, onde reinava um clima revolucionário desde o movimento de 1817.

Favorecendo as intenções de recoIonização, eliminando a representação popular, restringindo até a participação da aristocracia, a Carta de 1824, fez explodir as condições internas latentes em Pernambuco há muito tempo.

A revolução teve curta duração. Obtendo um empréstimo de um milhão de libra dos ingleses, D. Pedro contratou mercenários para reprimi-la, comandados por Cochrane e Tay lor. As tropas brasileiras eram comandadas pelo brigadeiro Francisco de Lima. Cercados e divididos, os rebeldes foram derrotados. Pais de Andrade conseguiu fugir e Frei Caneca foi preso e condenado à morte.

Extensão da Confederação do Equador e sua bandeira.

Período Regencial - Políticas interna e externa

Prof. Robson Santiago

POLÍTICA EXTERNA

Durante o segundo reinado, a política externa brasileira pautou-se pela busca da afirmação nacional, desenvolvendo uma “política de prestígio” frente aos interesses europeus (notadamente inglês), e intervencionismos na região do Prata, na tentativa de buscar o equilíbrio na região, mas também exercendo uma faceta imperialista como no caso da Guerra do Paraguai.

Neste contexto dois eventos de grande importância ocorreram, a Questão Christie e a Guerra do Paraguai.

A Questão Christie

A “Questão” na realidade foi o ponto mais agudo nas relações que já vinham tensas entre Brasil e Inglaterra, devido ao não cumprimento por parte do Brasil do acordo que levaria ao fim o tráfico negreiro; a Tarifa Alves Branco que aumentava o valor dos produtos ingleses na alfândega; e a Bill Aberdeen por parte da Inglaterra que aprisionava os navios negreiros.

As relações entre os dois países se deterioraram ainda mais quando houve o naufrágio de dois navios ingleses no Brasil, que tiveram sua carga saqueada pela população e pela prisão de dois oficiais ingleses que acabaram desrespeitando autoridades brasileiras.

No caso dos navios, o Embaixador Sir Willian Dougall Christie exigiu indenizações, no caso dos oficiais, exigiu sua soltura e um pedido de desculpas das autoridades brasileiras.

Christie mandou sua marinha aprisionar cinco navios brasileiros. O governo chegou a pagar as indenizações, mas levou o caso para ser arbitrado por Leopoldo II, Rei da Bélgica, que deu causa favorável ao Brasil. A Inglaterra não se retratou, e por isso, as relações diplomáticas foram rompidas em 1863.

A retratação inglesa ocorreu em 1865, retomando a diplomacia entre Brasil e Inglaterra necessária para a eclosão da Guerra do Paraguai que ocorreria no mesmo ano.

O MOVIMENTO REPUBLICANO E A CRISE DO IMPÉRIO


Convenção de Itu em 1870, em que foi redigido o Manifesto Republicano

1) O Movimento Republicano:
A partir da segunda metade do século XIX o café transformou-se no principal produto de exportação do Brasil, ao atingir o Vale do Paraíba em 1820 e a região do Oeste Paulista em 1850, trouxe uma mudança significativa em termos sociais e políticos (formando uma elite moderna no Oeste Paulista) resultando em atritos com o Governo Imperial, por querer maior participação política no país.

Em 1870 foi lançado o Manifesto Republicano no jornal do Rio de Janeiro “A República”.

Em 1873, na Convenção de Itu, os republicanos da Província de São Paulo orientariam a formação do Partido Republicano Paulista – PRP.

Os Militares, simpáticos ao republicanismo, e a aliança com os civis representados pelo PRP, derrubaram a Monarquia em fins do século XIX.

2) A Crise do Império – Desgaste e Fim:
O Império paulatinamente, no decorrer da segunda metade do século XIX, vinha se envolvendo numa série de conflitos que acabara lhe desgastando, e ao perder o seu prestígio abriu caminho para que o republicanismo se instalasse no Brasil.

Seu desgaste ocorre devido ao enfrentamento de 3 Questões:

a) Questão Religiosa:
Como já é sabido, a Igreja era submetida ao poder Imperial, fato este confirmado na Constituição de 1824 através do Padroado e Beneplácito.

Diante do poder do Beneplácito, o Imperador não concedeu o placet (visto de autorização) à Bulla Syllabus, que enviada pelo Papa, queria separar católicos de maçons. Dois Bispos (de Olinda e de Belém) desacataram a decisão do Imperador e acabaram sendo presos. Apesar da soltura, este episódio levou a Igreja a romper com o Império.

b) Questão Militar:
Ao voltar da Guerra do Paraguai com os ideais Positivista e Abolicionista, o Exército passou a questionar a sua condição de exclusão política, chegando a ter dois de seus oficiais participando de eventos na Imprensa para criticar esta situação. Porém, como esta atitude era proibida e vista como indisciplina, acabou resultando em prisões, o que levou o marechal Deodoro da Fonseca a assinar um violente manifesto que junto ao corpo de militares se colocaram em oposição ao governo de D. Pedro II.

c) Questão Social:
A luta dos negros contra a escravidão ganhava cada vez mais adeptos na sociedade já que neste período, o sentimento abolicionista estava presente em diversos setores como intelectuais e os oficiais do Exército, além da própria opinião partidária completamente favorável ao fim da escravatura.

Em 13 de Maio de 1888, é assinada a Lei Áurea abolindo definitivamente a Escravidão.

Ocorreu que, não houve indenizações aos proprietários que insatisfeitos, romperam com o Império entrando no PRP, sendo chamados por isso de Republicanos de última hora.


Sessão do Conselho de Estado em que a Princesa Isabel assina a Lei Áurea
3) A queda do Império:
Na manhã do dia 15 de Novembro de 1889, a união entre Civis (cafeicultores articulados em torno do PRP) e Militares, chefiados pelo Marechal Deodoro da Fonseca depõe o Ministério Imperial e prendem seu Presidente, Visconde de Ouro Preto. Era o golpe da República, que seria proclamada solenemente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pondo ao fim a Monarquia brasileira que se iniciara em 1822.


Proclamação da República, na praça da Aclamação, hoje Praça da República, RJ.


Conclusão:
Vários seriam os fatores que derrubaram o Império no Brasil, como por exemplo, a própria imobilidade do Império diante das grandes transformações pelas quais passavam a política, economia e a sociedade a partir de meados do século XIX, o constante desgaste a que vinha sendo submetido e a difusão de idéias liberais e positivistas em favor de um governo republicano como era o caso da Argentina e Uruguai, países vizinhos que adoram este modelo para resolverem seus problemas, além dos Estados Unidos que era o exemplo para toda a América Latina. Somou-se a esses fatos a aversão dos cafeicultores de um Terceiro Reinado ser comandado pelo Conde d`EU (Gastão de Orleans), marido da Princesa Isabel.

Inserção dos escravos e industrialização

Era Mauá, a concorrência
com o nascente processo de industrialização americana

Durante o período do Segundo Reinado, com a fim dos conflitos internos, o Brasil Imperial vivia em conjunto com os países capitalistas desenvolvidos a Segunda Revolução Industrial, o país apresentava diversos avanços sócio-econômicos.

Os capitais excedentes da economia cafeeira aqueciam nossa economia, estimulando a construção de ferrovias e portos, criando condições para o surgimento de um setor financeiro para dar vazão aos novos capitais e atividades ligadas ao comércio interno e uma série de atividades empresariais.

Com a aprovação da tarifa Alves Branco, que majorando as taxas alfandegárias gerou um estímulo à criação de manufaturas internas, também a Lei Eusébio de Queirós, que em 1850 aboliu o tráfico negreiro, liberou capitais para outras atividades, impulsionando ainda mais os negócios urbanos no Brasil.

Dentro deste movimento de industrialização destaca-se o empresário Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá, atuante nos mais diversos setores da economia nacional e urbana.

Contudo, a era Mauá não durou, tendo em vista os poderosos interesses que contrariava. As elites monoplantadoras escravistas não viam com bons olhos a crescente perda de poder econômico e político. O nascente parlamentarismo não era bem visto, nem tampouco a política abolicionista. Assim, o inimigo interno era poderoso: a elite agrária de então.

O inimigo externo era mais poderoso ainda, chegando a atos de sabotagem à concorrência brasileira. De se lembrar que, neste exato momento, a concorrência se fazia forte com as demais nações que se industrializavam, e que os Estados Unidos após o fim da guerra da Secessão (exatamente neste período) começou a ver também amplo surto de expansão, bem como que o eventual espaço de expansão econômica era o mesmo - o continente latino-americano.

E muito embora a bancarrota de Mauá tenha ocorrido ainda no período monárquico, todas as condições para a industrialização do país estavam postas, nada impediria que um novo "Mauá" surgisse. As cidades aos poucos e lentamente se modernizavam e surgiram o transporte público, a energia elétrica e o telefone (que tiveram no Brasil um dos primeiros países a implantá-los).

A abolição da escravatura foi uma espécie de pá de cal no regime monárquico, não só pelo fato de os senhores não terem sido indenizados, mas pelo perigo que os libertos representariam caso se tornassem consumidores urbanos. Assim, houve espaço para que a aristocracia rural, utilizando-se da insatisfação do exército se articulasse para o golpe de Estado do 15 de novembro de 1889, com embasamento doutrinário explicito na Doutrina Monroe.

Tudo feito senão com a intervenção direta do maior interessado externo (os Estados Unidos), pelo menos com sua feliz anuência, conforme se vê da correspondência do representante do governo norte-americano no Brasil (Enviado Extraordinário do Departamento de Estado Norte Americano - Robert Adams Jr.) na ocasião (dia 17 de novembro) para seus superiores em Washington:

"Imperial family sailed today. Government de facto with ministry established perfect order maintained, important we acknowledge republic first. Adams." (In SILVA, Hélio: "1889: A República não esperou o amanhecer", Porto Alegre: LP&M, p.371).

Dessa forma a permissão norte-americana para a proclamação da república não só se fez patente como se tornou ativa em diversas outras ocasiões para a manutenção da mesma, inclusive com a utilização de navios de guerra para se debelar levante anti-republicano, tudo dentro da Doutrina Monroe.

Pelo que se viu o Golpe de Estado não só foi um ato perpetrado pelas elites agrárias, como também foi resultado de um conjunto de ações da América do Norte com o fito de imbuir na propaganda republicana a Doutrina Monroe; para acabar com a possível competição do gigante do Sul; e sedimentar a América Latina como zona de expansão econômica colonial, fornecedora de matérias-primas e importadora de capitais e de tecnologia, o que naquele momento foi ao encontro dos anseios das elites agrárias, que não viam com bons olhos a implantação de uma nação industrial no Brasil, um surgimento de um novo empresariado e a criação de um pujante mercado consumidor interno.

O modelo que herdamos é diferente daquele que se delimitava. Os excedentes da economia cafeeira não mais se direcionariam para a implantação de infra-estrutura e de atividades empresariais, mas sim, unicamente para a absorção de bens de consumo, impedindo assim, estruturalmente, a distribuição de renda.

Tal afirmativa de nenhuma maneira é contraditada pela industrialização tardia experimentada em meados do século XX, tendo em vista que esta não se baseou em tecnologias e capitais próprios, acentuando tão-somente nossa dependência externa; bem como na base unicamente consumista das elites o que em tese impede a formação de poupança interna, sendo, portanto, de caráter bem distinto daquele de meados do século XIX.

Por tudo o que se vê, o golpe de 1889 talvez tenha sido o maior "Crime de Lesa Pátria" já perpetrado contra o país, devendo os conspiradores que encabeçaram tal sedição, serem tratados como deveriam: Traidores da Pátria.

A política externa do Império e a guinada republicana - Congressos pan-americanos e intervenções americanas

O Império brasileiro, era a franca tentativa de inserção de um modelo civilizatório distinto da proposta norte-americana dentro do continente americano, aliás, exemplo único tendo em vista as diversas republiquetas que foram surgindo em nossa volta. Era antes uma tentativa de se matizar o modelo europeu com as particularidades locais.

Dentro deste contexto o Império brasileiro sempre buscou pautar-se pela independência na política externa e na defesa, única e exclusiva, dos interesses nacionais.

Muito desta política e de sua posterior mudança pode ser verificada quando dos congressos pan-americanos do século XIX e início do século XX. No primeiro destes congressos, o do Panamá (1826), foi onde praticamente nasceu o ideal pan-americano. Convocado por iniciativa de Bolívar, realizou-se entre 22 de junho e 15 de julho de 1826, com a presença de delegados de países latino-americanos, além de observadores europeus (Grã-Bretanha e Holanda). O objetivo era a constituição de uma confederação de nações americanas.

Os interesses Ingleses e norte-americanos se debatiam neste congresso. A Inglaterra não estava disposta a que surgisse um contraponto entre o monarquismo europeu e a republicanismo americano, enquanto a posição americana seria no sentido de, até em obediência à recém-nascida Doutrina Monroe, fomentar este contraponto. Os regimes políticos e econômicos dos Estados Unidos deveriam ser copiados pelas nações americanas, numa tentativa de tornar a república inerente às Américas e a Monarquia inerente ao velho mundo. Além disto, o Departamento de Estado norte-americano tinha a clara intenção de neutralizar o mais possível a ingerência comercial inglesa nas novas nações e de infundir nestas a confiança nas "instituições republicanas".

Neste congresso a delegação norte-americana, contudo, sequer compareceu deixando um campo livre aos ingleses para que se impedisse a formação da política das duas esferas e da liderança formal dos EUA sobre as nações latino-americanas. Até aquele momento, portanto, a hegemonia inglesa sobre o mundo era inconteste e poucas potências regionais iam surgindo.

Assim pela ausência norte-americana neste congresso, e pela posição inglesa contrária ao surgimento de um "contraponto" de regimes "americanos" e "europeus", é que a Monarquia brasileira avançava e dava frutos no gigante do Sul, temido e visto com desconfiança tanto pelos vizinhos latino-americanos como pelo outro gigante do Norte, que via assim a exceção à política de contraponto se corporificar.

Todavia, o encontro serviu de precedente para novos congressos pan-americanos. Sob este mesmo pretexto, os Estados Unidos convocaram, no fim do século XIX, os países da América Latina para um novo congresso internacional americano em Washington. O nascente capitalismo industrial norte-americano precisava se expandir e conquistar novos mercados consumidores (com o esgotamento do mercado interno e a sobra de capitais para investimento) sendo interessante para os Estados Unidos adotar a retórica pan-americanista nas suas relações com a América Latina.

Assim, os Estados Unidos buscaram sua inserção no rol das novas potências e, a exemplo destas, procurou colônias que forneceriam a matéria-prima para sua nascente industria e expansão de seu espaço vital econômico e neste ponto a América Latina era alternativa óbvia.

De se verificar, contudo que não poderia ser um colonialismo "oficial", tendo em vista que o embasamento teórico seria justamente a Doutrina Monroe, que asseguraria a "Independência" dos países americanos sob as "Instituições republicanas". Assim, surge um novo tipo de colonialismo que somente no século seguinte seria "copiado" pelas potências européias, esteado na "independência" política formal da colônia, mas alicerçado na mais completa dependência econômico -financeira e cultural da sociedade dominada.

Dessa feita ocorreu em Washington, no período de 20 de outubro de 1889 a 19 de abril de 1890 nova conferência internacional americana. Esta foi talvez a primeira tentativa clara e explicita de dominação econômica dos Estados Unidos sobre seus vizinhos do Sul com a tentativa de criação de união aduaneira entre os países americanos, para encher os mercados latino-americanos de seus produtos industrializados e impedir a industrialização destes, especialmente do gigante do Sul. O Império do Brasil foi veementemente contrário a qualquer tentativa de união aduaneira e, assim, sua delegação foi instruída para rejeitar qualquer proposta que fosse feita neste sentido, reafirmando recusa já feita em 1887 ao então presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland.

Ficou claro que o gigante do Sul era um claro empecilho à política da "América para os Americanos", primeiro devido ao seu próprio tamanho; segundo, pela contradição que seu regime representava à política propalada pelos norte-americanos, da oposição do republicanismo americano ao monarquismo europeu e conforme a firmeza e a segurança institucional que o regime brasileiro representava, permitindo a tomada de posições independentes e unicamente voltadas para o interesse nacional.

Ficava evidenciado aos norte-americanos que somente a queda do regime monárquico permitiria aos Estados Unidos a plena hegemonia no continente, não se podendo esquecer que, durante o Império, o Brasil era uma potência ativa, intervindo em outros países sul-americanos, ocupando o Paraguai, destituindo Rosas na Argentina e sendo dono ainda de uma poderosa armada.

Assim, a república no Brasil era de total interesse para os Estados Unidos, pois certamente seria um regime mais fraco, sem representatividade, que necessitaria do apoio externo e teria que barganhar com tais interesses sua permanência e existência.

Como comprovação basta verificar-se o desfecho da questão acima, já sob o regime republicano, onde o novo ministro plenipotenciário do Brasil em Washington, Salvador de Mendonça, autorizado pelo ministro das Relações Exteriores, Quintino Bocaiúva, firmou um convênio aduaneiro bilateral com os Estados Unidos em 31 de janeiro de 1891.

A partir de então o país adotaria uma postura subalterna em relação aos Estados Unidos, inclusive aliando-se à América do Norte em questões políticas e econômicas, contrárias aos interesses nacionais, cujo ápice caricato se dá na chamada política da "boa vizinhança", onde os filmes de Hollywood mostram um Brasil primitivo, erótico e indolente, que aprende com os modernos Estados Unidos como se faz uma "república".

As razões conjunturais do golpe de 1889

A Doutrina Monroe e o Manifesto Republicano. Concorrência dentro do mesmo continente

Os Estados Unidos (da América do Norte) surgiram para o mundo como um país pequeno e frágil, de início delimitado às 13 ex-colônias inglesas da América do Norte, experimentando uma rápida expansão para Oeste, sobre os territórios da Louisiana e mexicanos. Nesta época, já no inicio do século XIX, eclodiam revoltas por toda a América, ocasionadas por insurreições nativistas que buscavam a independência de suas regiões da metrópole colonizadora. Os movimentos iam surgindo das mãos das elites crioulas que se formavam no seio das Américas.

Na Europa, o quadro não era menos grave. Em 1823 a Espanha foi ocupada por forças da Santa Aliança, sufocando um levante liberal. Assim, em outubro, Fernando VII recuperou seu trono e o poder graças às forças enviadas do exterior em seu amparo. Com tal retomada a Espanha viu-se seriamente tentada a retomar suas colônias americanas, ocasião em que os Estados Unidos criaram a Doutrina Monroe, nascida de mensagem enviada ao Congresso daquele país pelo seu presidente James Monroe. Tal mensagem se opunha de inicio à Santa Aliança e à tentativa de recolonização das Américas.

De início, os princípios de tal doutrina eram meramente defensivos. Os Estados Unidos colocavam-se como protetores das nações latino-americanas recém-emancipadas, repudiando qualquer intervenção armada programada pela Santa Aliança. A mensagem era ao mesmo tempo uma advertência às potências européias no sentido de que não tentassem recolonizar o continente, nem interferissem nos princípios republicanos referentes ao processo de emancipação e ao mesmo tempo um oferecimento: os Estados Unidos, em troca, deixariam de intervir nos negócios pertinentes aos países europeus.

A mensagem tornou-se o pilar das relações dos Estados Unidos para com o mundo daquela época e para com os seus vizinhos. Mas, com o passar do tempo, ela serviu como pretexto para os mais variados intervencionismos norte-americanos no continente e áreas contíguas.

De início, como visto, tal doutrina tinha caráter defensivo. Contudo, com o fim da Guerra da Secessão, em 1865, com a vitória do Norte seguida de um impressionante crescimento do poderio econômico dos Estados Unidos, alavancado pela industrialização e pela entrada de novos consumidores no "mercado" americano (leia-se ex-escravos) a doutrina, na sua vertente ativa, foi sendo posta em prática. De nítida inspiração defensiva, passou a ser utilizada como justificativa intervencionista, como um embasamento para a subordinação de parte da América Latina aos interesses econômicos e estratégicos dos Estados Unidos.

Com a superação do perigo de retomada colonial da América, os Estados Unidos não precisavam mais se preocupar com a defesa de sua independência, ameaçada que estaria com a presença das potências européias em grandes áreas do continente (a bem dizer às suas portas); passou então a eliminar a concorrência interna. Dentro deste contexto surge a doutrina do Destino Manifesto: "A pura raça anglo-americana está destinada a estender-se por todo o mundo com a força de um tufão. A raça hispano-mourisca será abatida". - New Orleans Creole Courier, 27.01.1855.

Neste ponto, o outro país continental das Américas era a mais séria preocupação. Os Estados Unidos sabiam que não haveria espaço para duas novas potências mundiais no âmbito do mesmo continente. Este concorrente tinha ainda por cima um regime hostil e distante do americano e próximo dos regimes existentes na Europa e mais fácil, portanto, de ser digerido como "fato consumado por aquelas potências": o Império do Brasil. Seria preciso neutralizar o Brasil, ou ao menos ter um poder simpático instalado neste país.

Neste sentido, em socorro ao Destino Manifesto, surge outro documento, o Manifesto Republicano publicado no dia três de dezembro de 1870, no jornal A República, no Rio de Janeiro, que literalmente dizia:

"Somos da América e queremos ser americanos. A nossa forma de governo é, em sua essência e em sua prática, antinômica e hostil ao direito e aos interesses dos Estados americanos. A permanência dessa forma tem de ser forçosamente, além da origem de opressão no interior, a fonte perpétua da hostilidade e das guerras com os povos que nos rodeiam.
( in "O Primeiro Centenário do Manifesto Republicano de 1870", separata da Revista de História n.84,1970, apud Reinaldo Carneiro Pessoa (org.), A Idéia Republicana no Brasil Através de Documentos, São Paulo, Ed. Alfa-Omega, 1976, pp.39-62).

Assim como se pode ver, tal manifesto é antes um manifesto de aceitação e submissão à Doutrina Monroe e abandono de um processo civilizatório distinto, deveríamos ser uma república, deveríamos ser Estados Unidos, enfim, deveríamos ser [dos] americanos. Fica claro e em nenhum ponto é omitido (muito pelo contrário: é explicitado) o embasamento político e teórico para a "nascente república".

Período Regencial - Política externa

Prof. Robson Santiago


POLÍTICA EXTERNA

Durante o segundo reinado, a política externa brasileira pautou-se pela busca da afirmação nacional, desenvolvendo uma “política de prestígio” frente aos interesses europeus (notadamente inglês), e intervencionismos na região do Prata, na tentativa de buscar o equilíbrio na região, mas também exercendo uma faceta imperialista como no caso da Guerra do Paraguai.

Neste contexto dois eventos de grande importância ocorreram, a Questão Christie e a Guerra do Paraguai.

A Questão Christie

A “Questão” na realidade foi o ponto mais agudo nas relações que já vinham tensas entre Brasil e Inglaterra, devido ao não cumprimento por parte do Brasil do acordo que levaria ao fim o tráfico negreiro; a Tarifa Alves Branco que aumentava o valor dos produtos ingleses na alfândega; e a Bill Aberdeen por parte da Inglaterra que aprisionava os navios negreiros.

As relações entre os dois países se deterioraram ainda mais quando houve o naufrágio de dois navios ingleses no Brasil, que tiveram sua carga saqueada pela população e pela prisão de dois oficiais ingleses que acabaram desrespeitando autoridades brasileiras.

No caso dos navios, o Embaixador Sir Willian Dougall Christie exigiu indenizações, no caso dos oficiais, exigiu sua soltura e um pedido de desculpas das autoridades brasileiras.

Christie mandou sua marinha aprisionar cinco navios brasileiros. O governo chegou a pagar as indenizações, mas levou o caso para ser arbitrado por Leopoldo II, Rei da Bélgica, que deu causa favorável ao Brasil. A Inglaterra não se retratou, e por isso, as relações diplomáticas foram rompidas em 1863.

A retratação inglesa ocorreu em 1865, retomando a diplomacia entre Brasil e Inglaterra necessária para a eclosão da Guerra do Paraguai que ocorreria no mesmo ano.

O MOVIMENTO REPUBLICANO E A CRISE DO IMPÉRIO


Convenção de Itu em 1870, em que foi redigido o Manifesto Republicano

O Movimento Republicano:
A partir da segunda metade do século XIX o café transformou-se no principal produto de exportação do Brasil, ao atingir o Vale do Paraíba em 1820 e a região do Oeste Paulista em 1850, trouxe uma mudança significativa em termos sociais e políticos (formando uma elite moderna no Oeste Paulista) resultando em atritos com o Governo Imperial, por querer maior participação política no país.

Em 1870 foi lançado o Manifesto Republicano no jornal do Rio de Janeiro “A República”.

Em 1873, na Convenção de Itu, os republicanos da Província de São Paulo orientariam a formação do Partido Republicano Paulista – PRP.

Os Militares, simpáticos ao republicanismo, e a aliança com os civis representados pelo PRP, derrubaram a Monarquia em fins do século XIX.

A Crise do Império – Desgaste e Fim:
O Império paulatinamente, no decorrer da segunda metade do século XIX, vinha se envolvendo numa série de conflitos que acabara lhe desgastando, e ao perder o seu prestígio abriu caminho para que o republicanismo se instalasse no Brasil.

Seu desgaste ocorre devido ao enfrentamento de 3 Questões:

a) Questão Religiosa:
Como já é sabido, a Igreja era submetida ao poder Imperial, fato este confirmado na Constituição de 1824 através do Padroado e Beneplácito.

Diante do poder do Beneplácito, o Imperador não concedeu o placet (visto de autorização) à Bulla Syllabus, que enviada pelo Papa, queria separar católicos de maçons. Dois Bispos (de Olinda e de Belém) desacataram a decisão do Imperador e acabaram sendo presos. Apesar da soltura, este episódio levou a Igreja a romper com o Império.

b) Questão Militar:
Ao voltar da Guerra do Paraguai com os ideais Positivista e Abolicionista, o Exército passou a questionar a sua condição de exclusão política, chegando a ter dois de seus oficiais participando de eventos na Imprensa para criticar esta situação. Porém, como esta atitude era proibida e vista como indisciplina, acabou resultando em prisões, o que levou o marechal Deodoro da Fonseca a assinar um violente manifesto que junto ao corpo de militares se colocaram em oposição ao governo de D. Pedro II.

c) Questão Social:
A luta dos negros contra a escravidão ganhava cada vez mais adeptos na sociedade já que neste período, o sentimento abolicionista estava presente em diversos setores como intelectuais e os oficiais do Exército, além da própria opinião partidária completamente favorável ao fim da escravatura.

Em 13 de Maio de 1888, é assinada a Lei Áurea abolindo definitivamente a Escravidão.

Ocorreu que, não houve indenizações aos proprietários que insatisfeitos, romperam com o Império entrando no PRP, sendo chamados por isso de Republicanos de última hora.


Sessão do Conselho de Estado em que a Princesa Isabel assina a Lei Áurea
3) A queda do Império:
Na manhã do dia 15 de Novembro de 1889, a união entre Civis (cafeicultores articulados em torno do PRP) e Militares, chefiados pelo Marechal Deodoro da Fonseca depõe o Ministério Imperial e prendem seu Presidente, Visconde de Ouro Preto. Era o golpe da República, que seria proclamada solenemente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pondo ao fim a Monarquia brasileira que se iniciara em 1822.


Proclamação da República, na praça da Aclamação, hoje Praça da República, RJ.


Conclusão:
Vários seriam os fatores que derrubaram o Império no Brasil, como por exemplo, a própria imobilidade do Império diante das grandes transformações pelas quais passavam a política, economia e a sociedade a partir de meados do século XIX, o constante desgaste a que vinha sendo submetido e a difusão de idéias liberais e positivistas em favor de um governo republicano como era o caso da Argentina e Uruguai, países vizinhos que adoram este modelo para resolverem seus problemas, além dos Estados Unidos que era o exemplo para toda a América Latina. Somou-se a esses fatos a aversão dos cafeicultores de um Terceiro Reinado ser comandado pelo Conde d`EU (Gastão de Orleans), marido da Princesa Isabel.

























quarta-feira, 10 de março de 2010

Esse blog nasce com intenção de informar a seus leitores sobre os acontecimentos da atual política externa brasileira, alem de debater temas que serão levantados semanalmente à pedido do professor Sérgio Moura, de política externa do curso de Relações Internacionais da UNAES/Anhanguera.