quarta-feira, 17 de março de 2010

Inserção dos escravos e industrialização

Era Mauá, a concorrência
com o nascente processo de industrialização americana

Durante o período do Segundo Reinado, com a fim dos conflitos internos, o Brasil Imperial vivia em conjunto com os países capitalistas desenvolvidos a Segunda Revolução Industrial, o país apresentava diversos avanços sócio-econômicos.

Os capitais excedentes da economia cafeeira aqueciam nossa economia, estimulando a construção de ferrovias e portos, criando condições para o surgimento de um setor financeiro para dar vazão aos novos capitais e atividades ligadas ao comércio interno e uma série de atividades empresariais.

Com a aprovação da tarifa Alves Branco, que majorando as taxas alfandegárias gerou um estímulo à criação de manufaturas internas, também a Lei Eusébio de Queirós, que em 1850 aboliu o tráfico negreiro, liberou capitais para outras atividades, impulsionando ainda mais os negócios urbanos no Brasil.

Dentro deste movimento de industrialização destaca-se o empresário Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá, atuante nos mais diversos setores da economia nacional e urbana.

Contudo, a era Mauá não durou, tendo em vista os poderosos interesses que contrariava. As elites monoplantadoras escravistas não viam com bons olhos a crescente perda de poder econômico e político. O nascente parlamentarismo não era bem visto, nem tampouco a política abolicionista. Assim, o inimigo interno era poderoso: a elite agrária de então.

O inimigo externo era mais poderoso ainda, chegando a atos de sabotagem à concorrência brasileira. De se lembrar que, neste exato momento, a concorrência se fazia forte com as demais nações que se industrializavam, e que os Estados Unidos após o fim da guerra da Secessão (exatamente neste período) começou a ver também amplo surto de expansão, bem como que o eventual espaço de expansão econômica era o mesmo - o continente latino-americano.

E muito embora a bancarrota de Mauá tenha ocorrido ainda no período monárquico, todas as condições para a industrialização do país estavam postas, nada impediria que um novo "Mauá" surgisse. As cidades aos poucos e lentamente se modernizavam e surgiram o transporte público, a energia elétrica e o telefone (que tiveram no Brasil um dos primeiros países a implantá-los).

A abolição da escravatura foi uma espécie de pá de cal no regime monárquico, não só pelo fato de os senhores não terem sido indenizados, mas pelo perigo que os libertos representariam caso se tornassem consumidores urbanos. Assim, houve espaço para que a aristocracia rural, utilizando-se da insatisfação do exército se articulasse para o golpe de Estado do 15 de novembro de 1889, com embasamento doutrinário explicito na Doutrina Monroe.

Tudo feito senão com a intervenção direta do maior interessado externo (os Estados Unidos), pelo menos com sua feliz anuência, conforme se vê da correspondência do representante do governo norte-americano no Brasil (Enviado Extraordinário do Departamento de Estado Norte Americano - Robert Adams Jr.) na ocasião (dia 17 de novembro) para seus superiores em Washington:

"Imperial family sailed today. Government de facto with ministry established perfect order maintained, important we acknowledge republic first. Adams." (In SILVA, Hélio: "1889: A República não esperou o amanhecer", Porto Alegre: LP&M, p.371).

Dessa forma a permissão norte-americana para a proclamação da república não só se fez patente como se tornou ativa em diversas outras ocasiões para a manutenção da mesma, inclusive com a utilização de navios de guerra para se debelar levante anti-republicano, tudo dentro da Doutrina Monroe.

Pelo que se viu o Golpe de Estado não só foi um ato perpetrado pelas elites agrárias, como também foi resultado de um conjunto de ações da América do Norte com o fito de imbuir na propaganda republicana a Doutrina Monroe; para acabar com a possível competição do gigante do Sul; e sedimentar a América Latina como zona de expansão econômica colonial, fornecedora de matérias-primas e importadora de capitais e de tecnologia, o que naquele momento foi ao encontro dos anseios das elites agrárias, que não viam com bons olhos a implantação de uma nação industrial no Brasil, um surgimento de um novo empresariado e a criação de um pujante mercado consumidor interno.

O modelo que herdamos é diferente daquele que se delimitava. Os excedentes da economia cafeeira não mais se direcionariam para a implantação de infra-estrutura e de atividades empresariais, mas sim, unicamente para a absorção de bens de consumo, impedindo assim, estruturalmente, a distribuição de renda.

Tal afirmativa de nenhuma maneira é contraditada pela industrialização tardia experimentada em meados do século XX, tendo em vista que esta não se baseou em tecnologias e capitais próprios, acentuando tão-somente nossa dependência externa; bem como na base unicamente consumista das elites o que em tese impede a formação de poupança interna, sendo, portanto, de caráter bem distinto daquele de meados do século XIX.

Por tudo o que se vê, o golpe de 1889 talvez tenha sido o maior "Crime de Lesa Pátria" já perpetrado contra o país, devendo os conspiradores que encabeçaram tal sedição, serem tratados como deveriam: Traidores da Pátria.

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